Fechamento do Estreito de Ormuz pode aumentar preço dos combustíveis e alimentos no Brasil
Desde a escalada do conflito entre Irã e Israel, o país liderado pelo aiatolá Ali Khamenei ameaça tomar o controle do Estreito de Ormuz, principal rota de escoamento para exportação de petróleo e gás natural das nações do Golfo Pérsico. Caso isso aconteça, o comércio de 30% de todo o petróleo mundial e 20% do gás natural podem ser afetados.
No Brasil, o governo federal já demonstrou preocupação com os efeitos que o fechamento do Estreito de Ormuz possam causar no país, já que o fechamento do estreito traz impacto mundial tanto no preço das commodities, quanto no combustível derivado do petróleo.
Apesar de autossuficiente, o Brasil ainda depende da importação de pequenos volumes do combustível. “O país importa petróleo mais leve, sobretudo da Arábia Saudita, para compor a produção de derivados de maior valor agregado. Uma restrição à navegação no Estreito de Ormuz obrigaria a diversificação de supridores, como países africanos”, explica João Victor Cardoso, pesquisador da FGV Energia.
Para Robson Gonçalves, economista e professor da FGV, o impacto nos preços no Brasil pode ser variado, mas tudo depende da reação da Petrobras. “A Petrobras, tempos atrás, tinha uma política de preços que repassava as cotações internacionais para o consumidor final. Caso adote uma política de absorver esse impacto, o repasse para o consumidor será menor”, explica.
O professor afirma que caso a estatal espere a situação no Irã se normalizar ou manter o preço dependendo do rateio entre petróleo importado e produzido localmente, os consumidores de gasolina, etanol e diesel não devem sentir tanto com o fechamento do Estreito de Ormuz.
João Victor Cardoso aponta que a Petrobras pode ser pressionada a repassar os impactos ao consumidor. “Caso os preços mais elevados permaneçam, deve ampliar a defasagem em relação ao preço de paridade de importação, pressionando a Petrobras a realizar ajustes nos combustíveis comercializados com as distribuidoras”, afirma.
Robson Gonçalves ainda alerta que o petróleo não é o único fator que pode afetar os preços no Brasil. “Existe todo um comércio de fertilizantes que passa por ali também. O impacto no Brasil se daria tanto para quem compra gasolina, quanto eventualmente nos preços de produtos agrícolas”, afirma.
Jorge Ferreira dos Santos Filho, professor da ESPM, afirma que o Irã também é produtor de ureia, substância que o Brasil é dependente. “A economia brasileira depende dela para fertilizantes, ou seja, teríamos um repasse nos custos no agronegócio brasileiro. Temos impactos sérios além do petróleo”, explica.
O professor pontua que a cadeia global de transportes marítimos seria afetado, aumentando os preços em geral. “25% do comércio de contêineres passa pelo Oriente Médio e fechar o Estreito de Ormuz ou o conflito no Golfo Pérsico afetariam a cadeia global de valor em transportes. Podemos ter uma escalada de inflação internacional”, avalia.
Podemos ter uma pressão imediata no diesel e no câmbio, em meses, nem a Petrobras pode segurar o preço dos combustíveis e uma inflação global. Temos risco de recessão global a longo prazo – Jorge Ferreira dos Santos Filho, professor da ESPM.
O que é o Estreito de Ormuz?
O Estreito de Ormuz é uma estreita via navegável de aproximadamente 33 quilômetros de largura, situada entre o Irã e Omã. Por ele transitam navios que saem do Golfo Pérsico em direção ao Mar Arábico.
Por essa rota escoam grandes volumes de petróleo bruto produzidos por países da Opep, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo, como Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Kuwait e Iraque, com destino a consumidores ao redor do mundo.
Jorge Ferreira do Santos Filho, professor da ESPM, afirma que não há um plano de contingência caso haja o fechamento do Estreito de Ormuz. “Para se ter uma ideia, ele é o segundo maior em grandeza, só perde para o Estreito de Málaga e é superior ao Canal de Suez. Ele é muito importante, não tem uma solução de contingência”, explica.
Segundo o professor Robson Gonçalves, não há tantas alternativas para escoar a produção de petróleo além do Estreito de Ormuz. “Existem vias de oleoduto que permitiriam contornar o escoamento pelo Estreito de Ormuz, mas eles não têm capacidade o suficiente. Então o impacto imediato seria nos mercados-destino”, avalia.
Fonte: paraiba.com/Band Uol